UM CARDEAL NA BIENAL

Um andar inteiro foi deixado vazio, sem obras, com alegação de que serviria para pensar e experimentar a estrutura do próprio prédio conforme constava no site da mostra: "Nesse território do suposto vazio que a intuição e a razão encontram solo propício para fazer emergir as potências da imaginação e da invenção." Propor que os visitantes criem, ou se relacionem com a arquitetura do prédio em função de presenciar um andar vazio, foi tido por muitos como distante, pouco eficaz. O público achou que tinha mais um caráter de protesto, pelos escassos recursos, do que um propósito realmente bem embasado de reflexão sobre o espaço expositivo.
Mas quisemos ir conferir de perto e pensamos que poderíamos fazer uma viagem diferente, levar algo, um objeto talvez, que "testemunhasse" a nossa passagem pelo evento.
Preparamos então um companheiro de viagem, a foto de um pássaro típico do Rio

Foi assim que se criou uma rotina de registro. A atitude de registrar a presença do cardeal, a cada passo da viagem, nos fez obter fotos pelas quais nao teríamos interesse sem essa proposta.
Criar um ponto intrigante nas imagens de registro era nossa intenção, entender as fotos de registro com um certo estranhamento, de ter uma testemunha que interfere na leitura visual desses lugares desconhecidos ou pouco frequentados. Um cardeal nas fotos torna intrigantes imagens que seriam banais.
Mas não é somente na postura frente aos percursos de uma viagem que gostaríamos de interferir levando um "amigo imaginário" para interagir, era



Essa mudança de postura de observador para agente fez com que mudássemos o contato com a arte dos lugares que visitamos, passando a nao ter mais tanta

Quanto à Bienal, achamos que ela foi pouco expressiva, poucas obras nos chamaram realmente a atenção fazendo refletir. Mas essa própria "pobreza", justificada pelo pouco quantidade de investimento, nos faz refletir sobre a crise que esse tipo de evento vive na atualidade. O grande público sente-se, na maioria das vezes, muito distante do entendimento da arte e do aproveitamento do contato com a arte contemporânea que exige um contato diferente do de um visitante em busca de lazer em tardes de domingo.
Além da Bienal, visitamos a "Paralela", exposição que acontece sempre ao

O que nos estimula ao ver o resultado dessa ação é o registro desse percurso pelo viés da nossa testemunha ocular, registro de como ela interagiu com os espaços por onde estivemos, de como procuramos lugares especiais pela cidade onde ela melhor se enquadraria para nossos registros - lugares dos quais sem ela não estaríamos à procura, registro de como documentamos essa imagem explorando peculiaridades das próprias obras, como seus reflexos, composição, imagem em movimento, enfim, de como a imagem do cardeal interagiu

Foi uma ação totalmente sem propósitos de exposição ou de divulgação. Serviu somente para enriquecer nosso contato com a viagem, com os lugares e, também, com as obras que presenciamos. Para nós, um outro tipo de olhar...
Bobagem para preencher o tempo? Mas o que é a vida senão procurar coisas que preencham nosso tempo para que ele se torne menos sem sentido?


Bobagem para preencher o tempo? Mas o que é a vida senão procurar coisas que preencham nosso tempo para que ele se torne menos sem sentido?


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